sexta-feira, maio 19, 2006

X-Wife: Na ressaca do electro

“Side Effects” marca do regresso dos portuenses X-Wife aos discos. Um trabalho onde utilizaram bateria em vez de caixa de ritmos, onde os teclados perderam algum protagonismo e a voz de João Vieira deixou o falsete para trás. Um virar de página com o mesmo espírito. Rock’n’roll agora e para sempre.


Divergências - O que é que mudou do primeiro para o segundo álbum?


João Vieira - A grande diferença é o uso da bateria. No primeiro álbum utilizávamos uma caixa de ritmos, neste temos baterista em quase todos os temas, à excepção de dois ou três. Baterista que utilizamos nos espectáculos ao vivo. Em termos de estúdio, neste disco o trabalho foi muito mais cuidado, houve pré-produção da nossa parte, gravamos o álbum todo num estúdio caseiro e só depois é que fomos para estúdio com as músicas todas feitas. Quisemos ver aquilo que poderia ser mudado e foi aí que decidimos usar a bateria. Este processo foi feito 1 ou 2 meses antes.


Divergências - É verdade aquilo que se diz que o segundo álbum é sempre o mais difícil?


JV - É verdade. No nosso caso o primeiro álbum causou um “hype”, falou-se muito na altura na comunicação social e havia também a cena electro a começar e desde logo colocaram-nos nessa cena. Éramos uma banda portuguesa a fazer aquilo que estava a fazer lá fora. Por isso, neste segundo álbum já não era a novidade que captava as atenções, daí que pudemos trabalhar de outra forma a produção, com mais cuidado. É claro que a principal preocupação são as músicas que têm que ser boas e têm de funcionar.


Divergências - Sentiram muita pressão quando começaram a pensar e compor este “Side Effects”?


JV - Acho que sim, que houve alguma pressão. Mesmo para nós. Chegamos a uma certa altura e que não sabíamos se aquilo que estávamos a fazer era melhor do que o que já tínhamos feito. Aconteceu muitas vezes e chegamos a ficar confusos. Por isso, escolhemos a bateria porque uma caixa de ritmos pode ser muito cansativa, principalmente a nossa que é um bocado limitada. No primeiro álbum, a caixa foi original e funcionou bem, mas num segundo álbum poderia tornar-se cansativa e igual. A intenção foi fugir a isso.


Divergências - Percebe-se que estão satisfeitos com o resultado final de “Side Effects”?


JV - Enquanto que o primeiro álbum é mais cru e cheio de energia, este é mais cuidado e pensado, os instrumentos têm um lugar próprio, tudo respira melhor. Estamos muito satisfeitos com o trabalho final.


Divergências - Ao ouvir este álbum notam-se algumas mudanças. Desde logo a utilização da bateria, mas também uma opção por usar menos os teclados. Porquê?


JV - O que se passou foi que o Rui [Maia] que é teclista também tocou bateria no álbum. A preocupação pela percussão impediu-o de estar mais atento aos teclados e ao mesmo tempo teve medo de se repetir. Depois as guitarras e os baixos são amis trabalhados e isso retira espaço aos teclados. Foi muito mais um trabalho de equipa.


Divergências - Também a tua voz está diferente. Tentaste fugir á utilização do falsete do primeiro álbum?


JV - Sim porque a primeira coisa que quis foi não me repetir e também porque me apetece fazer uma coisa diferente. No princípio era uma coisa muito imediata, não me cansava muito porque os concertos eram mais curtos, demoravam em média meia hora e eu tinha fôlego. Agora é diferente, canto durante uma hora. Assim é menos cansativo para mim e para o público.


Divergências - Houve também a tentativa de não vos voltarem a colocar rótulos e de vos colarem a bandas da moda, como aconteceu com os The Rapture?


JV - Colarem-nos aos The Rapture foi engraçado porque não eram sequer uma influência. A vocalização foi sempre mais ligada aos Pixies, de começar os versos com muita força. Os The Rapture foi uma coincidência. Neste álbum, a ideia foi colocar a voz de uma fora diferente. Agrada-me mais assim.


Divergências - Falaste do “hype” à volta dos X-Wife e não podemos deixar de falra no Dj Kitten. Já é mais fácil separar um e outro?


JV - Acho que sim. No início, os X-Wife tiveram uma grande ajuda do fenómeno Kitten embora eu nunca quisesse ligar as duas coisas. Mas é óbvio que havia curiosidade, mas agora já não há esse deslumbramento do princípio. O Clube Kitten começou do zero e os X-Wife também. Nunca fiz nada para que uma coisa puxasse a outra, foi uma coincidência.


Divergências - Tocar rock’n’roll em Portugal é tarefa difícil? O país tem uma cultura rock’n’roll?


JV - Parece-me que sim. Portugal tem apenas o problema de ser tão pequeno e ter pouco sítios para tocar. É muito difícil fazer uma tournée, principalmente para uma banda rock’n’roll. Por isso, também temos apostado muito lá fora. Temos andado nestes últimos dois meses a actuar em França, Inglaterra e Itália. Para o mês que vem vamos tocar a Espanha.

em Divergências por Jorge Oliveira

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