... novamente no Divergências.
"Nos últimos dois anos, depois de um período de crescimento musical, não só em termos de edições e do surgimento de vários projectos musicais mas também do aparecimento de alguns órgãos de comunicação social, nota-se um impasse (ou retrocesso) no panorama musical nacional. Isto deve-se, em grande parte, ao desaparecimento de alguns veículos de divulgação (Sol Música, Luso Beat, Rock Sound ou o programa radiofónico A Minha Fenther), a par de alterações editoriais em alguns dos resistentes (Blitz, Diário de Notícias ou RUM), abrandamento das edições de novos talentos - talvez devido à parca falta de oferta musical dos novos projectos em termos de originalidade -, bem como a uma certa medíocridade dos concursos (alguns cancelaram mesmo as suas edições). A isto, e à crescente onda de desmotivação social que atinge todo o país e com os consequentes efeitos secundários a atingirem as bolsas de todos ou, pelo menos, da maioria. Parece-me óbvio que vivemos um período negativo. E, por norma, segue-se sempre um período criativo em termos artísticos. Já defendi esta ideia no passado e continuarei a defendê-la até que os factos me façam mudar de opinião. Acredito que daqui a um ano alguma coisa começe a mudar. Mas até lá continuaremos a atravessar um deserto com um ou outro oásis de longe a longe. A verdade é que não há dinheiro, motivação e até mesmo interesse de uma parte considerável dos intervenientes no universo musical nacional. E esta situação atinge todos. Desde músicos a jornalistas. Mesmo os que resistiram durante muito tempo quase sucumbiram ao cansaço de remar contra a maré. Não é agradável organizar eventos onde quase ninguém aparece, participar em conferências onde as cadeiras estão vazias ou assistir a concertos e mais concertos com pouco público, onde na maioria dos casos se ouve mais do mesmo ou onde persiste a falta de criatividade. Raras excepções e, permitam-me a expressão, nestes últimos dois anos quase tudo me cheirou mal. Cansei-me de muita coisa. De ouvir e ler sempre as mesmas lamúrias e constatar que quando se tem a hipótese de discutir temas de interesse os “revolucionários” desaparecem. Do eterno “deita abaixo” de projectos quando estes atingem algum sucesso e do “estes é que são bons” porque são sempre alternativos e quase ninguém compra os seus discos. Irrita-me quando o trabalho de alguém não é reconhecido, independentemente do sucesso que alcança ou do “género” musical em que se movimenta. Talvez por estas coisas e outras tantas, da vida profissional à pessoal, me tenha afastado muito da música durante o último ano. Situação que pretendo alterar a partir de hoje, não apenas pela insistência de alguns amigos e colegas, mas também pelo ordenado chorudo que o Divergências me oferece. Convenhamos que é sempre um estímulo. Por isso voltarei a escrever assiduamente para o Divergências num formato artigo de opinião/crónica. Se quiserem ou não ler isso já é convosco, obviamente. No entanto, agradeço sugestões e opiniões sempre que acharem que elas sejam pernitentes. Isso e que usem o fórum para discutir ideias e, quem sabe, inspirarem a equipa do Divergências em novos conteúdos, sejam eles de opinião ou não. Os que quiserem dirigir-se a mim pessoalmente, seja para me mimarem com mensagens simpáticas, amargas, próprias ou impróprias, envio de maquetas ou discos para comentários (a palavra crítica é por si só assustadora) ou para outras coisas ligadas à música, peço-lhes que usem o meu novo e-mail, devidamente identificado em baixo. Espero contar com a vossa colaboração. Vemo-nos daqui a quinze dias neste mesmo espaço que, saliente-se, espera-se que seja de opinião e confrontação de ideias e pontos de vista. Entre outras coisas…"
email Jorge Baldaia: jorgebaldaia@hotmail.com
Texto retirado so site Divergências
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