segunda-feira, janeiro 17, 2011



MANIFESTO PELA MÚSICA POPULAR PORTUGUESA

Este tempo de Inverno já nos anda a deixar todos de mau humor e a estação ainda só vai a meio. Temos saudades da altura dos arraiais, das festas nas aldeias, do vinho rasca e da cerveja barata. Saudades dos palcos improvisados no largo da igreja, das estrelas da música pimba, das letras brejeiras concebidas com tanto engenho. Há quem considere que a música popular portuguesa não é digna de tanto respeito como outros estilo musicais nacionais, como o fado, por exemplo, ou aquela cena que os Xutos tocam e que há quem diga que é rock. Nós não podíamos discordar mais. Nem nós, nem o Sansão, o gajo do Manifesto pela Música Popular Portuguesa:

Urge defender o património nacional. Há que salvaguardar os interesses superiores da pátria e depois do lince ibérico, há que unir esforços e lutar pela conservação da música popular nacional, vulgarmente conhecida como música pimba.

Em primeiro lugar há que defender este género musical, porque ele nos defende a nós. É certo que a nossa frágil economia vive muito das exportações vinícolas e não há melhor promoção ao vinho nacional que a música do Homem do Garrafão — Leonel Nunes — também capaz de defender o produto agrícola em composições como Folhas de Alface ou Um Pepino Entre os Tomates. Também os mais oprimidos podem ver neste estilo uma janela de esperança, cantada no inconfundível sotaque beirão de Nel Monteiro que em Puta Vida Merda Cagalhões defende o proletário de forma acérrima. Aliás, na revolução social que Nel pretende operar, esta música teria um papel fundamental, visto que as forças armadas só sairiam à rua depois do videoclip da supracitada música passar na RTP.

Outra razão para a preservação deste género é a contribuição das suas letras para a cultura poética nacional, onde Emanuel e Quim Barreiros figuram sorridentes junto a Pessoa ou Camões, aproveitando para lhes perguntar como eram as gajas no seu tempo. O Espólio destes artistas encontra-se espalhado não só no livro de letras que vem no CD mas também em imortais portas de casa-de-banho masculinas onde os seus trocadilhos deliciam aqueles que, sentados na sanita, juram nunca mais comer feijoada na vida.

Além do mais, toda a animação que estes deuses dos discos-pedidos provocam durante o mês de Agosto pelas romarias no interior português pede já uma grande actuação no Pavilhão Atlântico. E se versos tão profundos como “Don’t call my name/ Don’t call my name/ Alejandro/ I’m not your babe/ I’m not your babe/ Fernando/ Don’t wanna kiss/ Don’t wanna touch/ Just smoke my cigarette, hush/ Don’t call my name/ Don’t call my name/ Roberto” levaram a sala de espectáculos ao rubro, o que lhe aconteceria quando as colunas gritassem “Mil comboios de beijos/ Mil folhas de alface/ São motivos para tu/ Me dares dois beijos na face”? Só o futuro e o Homem do Garrafão sabem a resposta…

E a verdade é só uma: todos os portugueses, pelo menos uma vez na vida trautearam uma música pimba. Quem não o fez que atire a primeira pedra. Mas não a mim, à Lady Gaga.


TEXTO POR SANSÃO GOMES

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